Partiste e apenas deixaste para trás uma canção...
Partiste e deixaste-me uma recordação, a tua bela canção!
Partiste, mas foi tarde quando me apercebi que levavas contigo as notas que em tempos enchiam e deliciavam meus jovens ouvidos, nas longas e quentes noites de Verão.
Nessas noites de luar, tudo era diferente e possível…
Naquele tempo, apenas os sonhos irrequietos da minha juventude impulsionavam os dias!
No início, parecia que tinhas deixado para trás todas aquelas notas cintilantes como estrelas que brilhavam numa qualquer noite infinita. Menina, como gostava de te ouvir cantar! E com que alegria o fazias!
De vez em quando, essas notas pulsavam no meu peito, saltitavam e oscilavam em harmonia, compondo a tua música, formando indeléveis sonhos, fugazes planos invisíveis, esperanças não realizadas, breves anseios.
Porém, sem que me apercebesse, uma a uma, as notas foram desaparecendo, tal como tu...
Sem música, um vazio entrou nos meus ouvidos e o silêncio ali fez sua morada.
Procurei apanhar algumas das notas, mas, quando parecia que as tinha, olhava para as mãos abertas, suadas de esforço, e percebia que haviam escapado.
Fugiram entre os precipícios que eram os espaços vazios entre os meus dedos.
Partiste e, afinal, levaste contigo a tua canção…